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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Análise de notícia e crônica sobre os Jogos Pan-Americanos 2007 - 8ª série

Ideal para o aluno que ainda não entende a diferença entre notícia e crônica. Texto maravilhoso! Vale a pena conferir!


Leia com atenção a notícia publicada no jornal Zero Hora, de 14/07/2007 e em seguida a crônica escrita pelo comentarista David Coimbra, da RBS, falando acerca da abertura dos Jogos Pan-Americanos:

LULA É VAIADO EM FESTA BONITA

Vaias ao presidente Luis Inácio Lula da Silva marcaram a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio, ontem, no Maracanã. Em uma quebra de protocolo, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, assumiu a tarefa de abrir oficialmente o evento.
Segundo o documento da organização dos Jogos, Lula deveria falar após o presidente do COB e o da Organização Esportiva Pan-Americana (Odepa), o mexicano Mario Vazquez Raña. Respeitando tradição de desde a edição de Buenos Aires, em 1951, Lula daria início ao Pan, dizendo: “Declaro abertos os Jogos. Boa sorte, Brasil”.
Mas a reação do público teria obrigado mudanças no protocolo. Nas vezes em que Lula aparecia nos telões ou era citado no evento, parte dos 90 mil espectadores o vaiava. O presidente, na tribuna de honra, ficou visivelmente chateado. Segundo o prefeito do Rio, César Maia, enquanto outros dirigentes discursavam, Lula decidiu não fazer sua parte na abertura. O presidente pediu ao Nuzman para não dizer que ele (Lula) anunciaria os jogos. Só que esqueceram de informar o Raña, que acabou chamando o nome do presidente. Foi uma situação chata, por culpa da precipitação da comitiva do presidente – disse César Maia.
Lula chegou a postar-se à frente do microfone, com seu texto na mão, mas Nuzman acabou dizendo:
- Em nome de todos, declaro abertos os jogos Pan-Americanos do Rio.
 Segundo a assessoria de imprensa da Presidência, houve “desencontro de cerimoniais”, ou seja, uma gafe. Já o comitê organizador do Pan não deu sua versão.
Ao fim da cerimônia, Lula saiu do Maracanã sem falar. Entrou no carro com a primeira-dama, Marisa Letícia, após se despedir do governador do Rio, Sérgio Cabral. Questionado sobre a reação do público, o vice-presidente José Alencar também não quis falar.
Lula não foi o único a ser vaiado. Sobrou também para os atletas americanos, venezuelanos e bolivianos.


A VAIA DO RIO DE JANEIRO BRANCO

A vaia do Maracanã ao presidente Lula foi maciça, foi pesada e foi humilhante. Mas há um aspecto nessa vaia que não se pode deixar passar: foi a vaia do Rio de Janeiro branco. Onde estavam os negros na linda festa do maior templo do esporte mundial? Onde estavam os pobres que todos os dias atormentam os motoristas nos sinais de trânsito, esmolam nas esquinas, balançam nos trens e nos ônibus lotados? Quem atravessou a cidade da Barra da Tijuca ao Maracanã viu onde eles estavam: nas favelas pingentes, nas malocas infectas, vivendo no fedor do mangue, entre balas perdidas e papagaios empinados.
Isso não desmerece nem desautoriza a vaia do Maracanã. Os bem nascidos e bem alimentados também têm direito à vaia, e foram 90 mil bem nascidos e bem alimentados que vaiaram o presidente. Mas foram, sim, os bem nascidos, os bem alimentados.
Eu estava no Maracanã. Eu vi: eram todos limpos, corados, vestidos de acordo com a moda, caminhando sorridentes com seus filhos pela mão. Repito: não havia pobres no Maracanã. E repito: isso não torna a vaia menor. Mas isso deixa exposta a maior chaga do Brasil. O Brasil são dois: o Brasil branco, que trabalha, ri, se diverte e protagoniza uma festa tão magnífica como a de ontem. E o Brasil que vive à margem, subnutrido, revoltado, muitas vezes de fuzil na mão, como nas favelas do Rio.
Lula veio deste Brasil. Do Brasil negro. Provavelmente mereceu a vaia. Mas quem o vaiou vem de um lugar do qual ele jamais pertenceu. E talvez tenha sido esse o motivo de ter sido a vaia tão maciça, tão pesada, tão humilhante.

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